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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Yoani Sánchez, a blogueira cubana que virou símbolo da liberdade de expressão

O surgimento e, sobretudo, a democratização da internet transformaram o modo como as pessoas enxergam a vida e lidam com as diferentes realidades socioculturais. Em meio a uma avalanche de inutilidades que pipocam diariamente no mundo virtual, aqueles que têm algo relevante a dizer sobressaem – afinal, como já instituído pelo velho ditado popular: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”. A filóloga cubana Yoani Sánchez se enquadra na categoria de personalidades que alcançaram fama internacional em consequência de suas ideias, postadas no blog “Generación Y” e em seu Twitter.
Considerada símbolo da luta pela liberdade de expressão, Yoani nasceu em quatro de setembro de 1975 em uma família de militantes socialistas de Havana. Seu pai, William Sánchez, trabalhava nas vias-férreas estatais, primeiro como operário, depois como maquinista. Com o fim da União Soviética e posterior colapso de todos os regimes comunistas na Europa, no entanto, Cuba passou a não mais receber recursos externos e a economia local entrou em crise, o patriarca dos Sánchez então se viu desempregado, como boa parte da população, e passou a consertar bicicletas.
Já crescida, Yoani Sánchez seguiu seu interesse por literatura latino-americana contemporânea e formou-se em Filologia Hispânica na Faculdade de Artes e Letras da Universidade de Havana. Seu trabalho final, apresentado em 2000, causou polêmica: a dissertação, chamada “Palavras sob pressão. Um Estudo da Literatura da Ditadura na América Latina” foi tido como uma provocação ao comparar as autoridades cubanas aos autoritários caudilhos que ascenderam ao poder na América do Sul e Espanha do século XX. Paralelamente aos estudos, Yoani casou-se com o jornalista e dissidente político 28 anos mais velho, Reinaldo Escobar. Após ter se graduado e se tornado mãe, a cubana trabalhou em uma editora de livros infantis e como professora de espanhol para turistas alemães, até emigrar para a Suíça, em 2002, onde permaneceu por dois anos.
De volta a Havana em 2004 para visitar a família, Yoani só poderia passar duas semanas no país – segundo a legislação local, os cidadãos que permanecerem por mais de 11 meses vivendo no exterior sem uma permissão especial não podem voltar a residir em Cuba. Para evitar ser obrigada a retornar à Suíça, Yoani destruiu seu passaporte e pôde novamente residir em sua terra natal, onde pouco tempo depois ajudou a fundar a revista “Consenso”. Em 2007, passou a trabalhar como jornalista para o portal “Desde Cuba” e em abril do mesmo ano criou seu blog, o já mencionado “Generatión Y”.
Em seu primeiro post no blog, feito em nove de abril de 2007, Yoani descreve a empolgação dos cubanos com as últimas partidas do campeonato nacional de beisebol e ironiza como a população se envolve no assunto, em contrapartida à falta de atitude em relação a outros tópicos: “Os industrialistas se vestem de azul, enquanto o vermelho é a cor de quem torce pelo Santiago de Cuba. Em numerosas varandas, portas e muros se lêem cartazes como “Industriais Campeões” ou “Santiago é muito Santiago”. (…) Sem embargo, não deixo de notar que durante esses dias a bola nos mergulha em um torpor irreal. (…) Posso imaginar o que acontecerá se uma vez concluída a final colocasse em minha varanda um papel mínimo dizendo: “Sim ao etanol” ou “Internet para todos”. Muito sagaz até nos menores apontamentos, é fácil entender por que Yoani incomodou o governo de Cuba – e incomodaria, aliás, a qualquer governo.
O “diário” online de Yoani começou a ganhar repercussão após a publicação de um artigo da “Reuters” sobre blogueiros cubanos em outubro de 2007. Logo se seguiram outras matérias, como a do “Wall Street Journal”, que praticamente elevou a escritora ao patamar de heroína: “Revolução Cubana: Yoani Sánchez luta contra o totalitarismo tropical, uma postagem de cada vez”, além de entrevistas ao “El País”, “Die Zeit” e “The New York Times”.
O blog converteu-se um sucesso internacional, mas apesar do êxito externo, em Cuba a blogueira parece só chamar a atenção das autoridades políticas: o site foi tirado do ar em diversas ocasiões e posteriormente bloqueado em definitivo. Yoani, que só conseguia atualizá-lo a partir de cafés ou hotéis de luxo (ela não possui internet em casa), foi obrigada a adotar um novo sistema, chamado por ela de “rede cidadã”: enviar por e-mail seus textos para que pessoas fora de Cuba os publiquem.

 



Em meio a muitas controvérsias, que incluem até o envio de perguntas ao Presidente americano, Barack Obama, Yoani Sánchez foi eleita uma das 100 pessoas mais importantes do mundo pela revista “Time” e ganhou o prêmio “Ortega y Gasset”, do jornal “El País”, na categoria de Jornalismo Digital. No final de 2011, o cineasta brasileiro Dado Galvão passou três semanas gravando o documentário “Conexão Cuba-Honduras” nos países homônimos para retratar as restrições políticas impostas às populações locais. Yoani Sánchez foi uma das escolhidas para “protagonizar” o projeto, que será lançado no dia 10 de fevereiro deste ano, e tenta vir ao Brasil para comparecer ao evento. O Ministério das Relações Exteriores já concedeu o visto à blogueira, resta agora a autorização do governo cubano. Nesta terça-feira (31.01), a presidente Dilma Rousseff esteve na ilha, onde se encontrou com o Fidel e Raúl Castro, mas evitou comentar os pedidos da ativista ou tampouco discutir questões relacionadas aos direitos humanos. Em entrevista à rádio “Estadão ESPN”, Yoani Sánchez, que se autodeclara “jornalista independente”, afirmou estar decepcionada com a líder brasileira.

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